Uma escritora, jornalista e pesquisadora que trabalha no combate ao racismo e na produção de literatura negra. Esmeralda Ribeiro cultiva a memória africana e afro-brasileira, além de estimular a participação das mulheres no universo das letras.
Nascida em São Paulo, em 1958, ela faz parte dos coletivos “Quilombhoje” e “Flores de baobá”. É uma das responsáveis pela edição da série “Cadernos Negros” e tem trabalhos em antologias no Brasil e no exterior.
Antes de entrar na faculdade, sofreu o impacto da morte do pai e escreveu um poema para trabalhar o luto. E assim, ajudando a mãe no sustento da casa, seguiu por caminhos que a levaram a conhecer o escritor Luiz Silva, que a apresentou ao projeto “Cadernos Negros”. Começou aí a entrada para um mundo novo de criação e participação na construção de uma literatura que abordasse a temática negra. Assim seguiu Esmeralda em textos que expressam suas angústias, ansiedades e reflexões como neste poema:
Olhar negro
Naufragam fragmentos
de mim
sob o poente
mas,
vou me recompondo
com o Sol
nascente,
Tem
Pe
Da
Ços
mas,
diante da vítrea lâmina
do espelho,
vou
refazendo em mim
o que é belo
Naufragam fragmentos
de mim
na coca
mas, junto os cacos, reinvento
sinto o perfume
de um novo tempo,
Fragmentos
de mim
dilui-se na cachaça
mas,
pouco a pouco,
me refaço e me afasto
do danoso líquido
venenoso
Tem
Pe
Da
Ços
tem
empilhados nas prisões,
mas
vou determinando
meus passos para sair
dos porões
tem
fragmentos
no feminismo procurando
meu próprio olhar,
mas vou seguindo
com a certeza de sempre ser
mulher
Tem
Pe
Da
Ços
Mas
não desisto
vou
atravessando o meu oceano
vou
navegando
vou
buscando meu
olhar negro
perdido no azul do tempo
vou
vôo,
In: “Cadernos Negros: os melhores poemas”, p. 64-66