Por Fernando Lavieri
A culinária de diversos povos está presente há muitos anos na capital financeira do Brasil. Em São Paulo é possível encontrar inúmeros restaurantes italianos, espanhóis e portugueses. Não é necessário muito esforço para achar também casas árabes e orientais que vedem comida saborosa. Mas, na “terra da garoa”, que acaba de completar 470 anos, há também a pujante cozinha afro-brasileira. Foi por meio dela que diversos ingredientes como o azeite de dendê e a pimenta malagueta passaram a fazer parte da mesa brasileira.
Com pratos simples e complexos o restaurante Chef Debinha, localizado na Bela Vista, na região central de São Paulo, especializou-se em agradar o público por meio de temperos diferenciados. “Aqui usamos os melhores insumos e a comida é feita com muito amor”, diz Debora Soares Fidelisa, a chefe Debinha. Ela conta quais são os pratos inspirados na cultura afro que produz. “Fazemos Dobradinha, Cuscuz Marroquino e uma Feijoada Especial. Mas, um de nossos pratos mais charmosos é o Fufu”, diz ela. O Fufu é um prato de origem africana que consiste em uma massa espessa feita à base de milho, mandioca ou arroz, acompanhada de um caldo grosso que pode conter peixe, tomate, óleos e carne. Em algumas regiões africanas, a massa é incrementada com a adição de legumes, tomates, batatas, cebolas e temperos. O Fufu pode ser feito de forma vegana também.
Debinha é cozinheira de mão cheia há trinta e sete anos e o seu restaurante se destaca também por unir outras culturas. “Já convidamos para cozinhar aqui chefes de Cabo Verde, Angola e Bolívia, entre outros.”, disse a chefe. A partir do dia 10 de fevereiro o restaurante chef debinha estará aberto todos os dias com comida e música ao vivo para todos os gostos.
Uma coisa é certa: a cozinha afro é, antes de tudo, lugar de aconchego e carinho, emoção de fato. Daniele David Almeida é uma chefe com mais de duas décadas de experiência. Ela conta que já trabalhou tanto com pratos requintados internacionais quanto populares. Hoje Daniele define a sua cozinha como ancestral. “É de nossa tradição cultural afro o reconhecimento de nossa própria história por meio do alimento. Quando estou na cozinha lembro das mulheres da minha família, avó, tias e irmãs. É um lugar de cuidado, carinho e compartilhamento. Os nossos pratos têm a nossa identidade”, diz ela.
Daniele explica que a preparação começa desde o cultivo dos ingredientes. “Quando estou na cozinha penso em nutrir o corpo. A alimentação tem de trazer saúde”, afirma ela. Daniela continua levando em consideração a história negra brasileira. “Antigamente, nós, os negros, não tínhamos acesso a medicina, a amplo tratamento com medicamentos industrializados. Era dentro da cozinha que se produzia xaropes, emplastros, outros sabores e coisas que traziam bem-estar e recuperavam as pessoas. Então, hoje tenho estudado e faço esse recorte. Coloco sobre a mesa comida para curar”, finaliza ela. Daniele trabalha com eventos gastronômicos atualmente, mas o seu restaurante cujo nome está no “forno”, estará aberto em breve, na zona sul paulistana, na rua Francisco Romeiro Sobrinho 171.
A partir das histórias de duas chefes negras, é possível notar que ter a capacidade de preparar refeições saborosas que sustentam o corpo e, ao mesmo tempo, são refinadas, não está vinculada apenas aos cozinheiros de determinadas nações, mas ela pode pertencer a diversas sociedades e, evidentemente, também a tradição afro-brasileira. E, é em São Paulo que todos esses paladares se encontram.