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Opinião
José Vicente
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B3, CVM e a inclusão racial

A inovadora proposta da B3 pode gerar uma sadia mudança no meio corporativo, principalmente no combate aos vieses simbólico e econômico.

Por: José Vicente – Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004. 

 

O ambiente corporativo é reconhecido como espaço em que a discriminação e exclusão racial têm grande incidência. Segundo a CVM, atualmente, em 61% das empresas listadas na B3 os negros não passam de 4% dos administradores e 3% dos integrantes dos conselhos de administração. Sob todos os aspectos é uma situação de terra arrasada. Mas é verdade também que é possível perceber mudanças embrionárias em relação ao perfil dos colaboradores.

O número de aprendizes, estagiários, trainees, profissionais e mesmo conselheiros de administração negros, por exemplo, tem crescido paulatinamente. Um dos motivos que possibilitaram a renovada postura empresarial foi o fortalecimento da filosofia do ESG focado na valorização da inclusão e diversidade racial, e da promoção do letramento racial empresarial que se tornou uma noção incontornável para o ambiente corporativo. A boa nova é a normatização da B3 autorizada pela CVM, determinando às suas quase 400 filiadas a presença nos quadros mais altos, no conselho administrativo ou na diretoria estatutária, ao menos de uma mulher que pertença às chamadas comunidades sub-representadas. Ou seja, as pessoas pretas, pardas, indígenas, LGBTQIA+ e deficientes.

Na prática, vai funcionar assim: existe um formulário de referência, chamado pratique ou explique. Nele a empresa listada na B3 escreverá porque aderiu ao modelo de ampliação da diversidade ou dará explicações em caso de não adesão. A partir desse momento, a companhia está apta à participação, caso queira. A B3 acredita que, para além de promover um avanço escalonado da diversidade corporativa, o incentivo também é uma forma de demonstrar maior transparência aos investidores. Por esse prisma parece-me certo que haverá ampla aceitação. Empresa alguma, em outras palavras, deixará de participar. Todas devem querer ter o nome envolvido em tão salutar projeto. Afinal de contas, é uma maneira de elevar a imagem da companhia de forma global.

A inovadora proposta da B3 pode gerar uma sadia mudança no meio corporativo, principalmente no combate aos vieses simbólico e econômico. Finalmente as corporações passam a reconhecer que a discriminação e o racismo existem e promovem exclusões e injustiças. E, que, sim, é importante abrir portas para diversidade. A partir do fortalecimento e ampliação de iniciativas dessa natureza surgem uma grande oportunidade de se elevar o nível de civilidade no ambiente corporativo e consolidação da igualdade, sobretudo entre negros e brancos,
no mercado de trabalho.

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