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Chaguinhas é um patrimônio da Liberdade

Legado de histórico personagem negro da capital paulista, reverenciado como santo por populares, deve ser tombado como Patrimônio Cultural e Imaterial da cidade. União em torno do tema existe na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Agora é questão de tempo.

Por Fernando Lavieri

Em 1821 a escravidão ainda fazia suas vítimas. Como se sabe, simples ações de pessoas pretas nessa época poderiam levar a agressões contumazes e morte, pois o negro era coisa. Imagine, agora, a dimensão da coragem de Francisco José da Chagas, cabo do 1° Batalhão de Caçadores de Santos, conhecido pelo apelido de Chaguinhas. Ele vivia pelas imediações da Liberdade e, por cinco anos, liderou um motim contra a corte portuguesa, em que reivindicara algo elementar: pagamento de salário. Veja só, homem negro, amotinado, no século XIX, exigindo pagamento? A resposta a Chaguinhas não poderia ser outra: forca. Ninguém poderia imaginar, porém, que a desumana solução destinada a população negra escravizada fosse falhar. A corda arrebentou três vezes na tentativa de execução. “Liberdade, liberdade, liberdade”, gritavam os apoiadores de Chaguinhas e outras pessoas perplexas com o fato. Conta-se que esse contexto fez com que o bairro se chamasse Liberdade e mais, transformou Chaguinhas em santo popular.

A história de Chaguinhas ilustrou a Assembleia Legislativa (Alesp), na quinta-feira 5, durante a audiência pública em que se debateu a situação da Igreja dos Aflitos, construção de memorial, e o reconhecimento do culto a Chaguinhas como Patrimônio Cultural Imaterial de São Paulo (Conpresp). A Universidade Zumbi dos Palmares se juntou a iniciativa, por meio de sua Escola de Saberes Ancestrais. Alberto Saraiva, coordenador do núcleo de projetos da Zumbi, que representou a instituição na audiência, afirmou que Chaguinhas, em seu tempo, foi um lutador por direitos, um herói (grifo meu). “Agora cabe a nós cumprirmos o nosso papel como fez Chaguinhas”, disse ele.

Antes de o bairro da Liberdade ser reconhecido como um espaço oriental, de preservação da cultura do Japão, em São Paulo, tratava-se de um território eminentemente negro. Na Liberdade havia pelourinho, local onde aconteciam as agressões, o Cemitério dos Aflitos, no qual eram enterrados os escravizados, indígenas e gente considerada criminosa. E, ainda, a Igreja dos Aflitos que há anos vem sendo invisibilizada junto a memória negra na localidade. O trâmite no Conpresp para que as solicitações discutidas na Alesp se tornem realidade leva tempo, mas o necessário reconhecimento de Chaguinhas e de todo o histórico afro-brasileiro na Liberdade não pode ser apagado.

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