Por Fernando Lavieri
Sem recorrer a sites de busca é possível afirmar que Lula foi primeiro e único presidente a pedir perdão pela escravidão no Brasil. O pedido aconteceu em 2005, quando ele visitara o Senegal, em uma região de onde os africanos escravizados eram transportados para as Américas. Ele, em seus pronunciamentos, sempre fez questão de enaltecer a contribuição da comunidade negra à Nação. E, mesmo sem citá-la de maneira enfática, essa exaltação pode ser percebida nas entrelinhas, como ocorreu na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), quando reforçou o compromisso de seu governo em combater a desigualdade. E o presidente não cuidou apenas de aspectos simbólicos. Ele desenvolveu ações políticas que têm a intenção de minorar o racismo e, no futuro, contribuir para a sua extinção. Em 2003 Lula sancionou uma das mais importantes leis brasileiras: a norma 10.639 que obriga o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas.
E, agora, em seu terceiro mandato, o presidente Lula teve a percepção do momento e das necessidades da população, sobretudo, da negritude brasileira. Após quatro anos de administração Bolsonaro, a qual não tinha o mínimo apreço pela urgente agenda negra e a pandemia, surge o Ministério da Igualdade Racial. Recorrendo a pesquisa: “O órgão tem como atribuição elaborar políticas e diretrizes destinadas à promoção da igualdade racial e étnica, políticas de ações afirmativas e combate e superação do racismo, políticas para quilombolas, povos e comunidades tradicionais, entre outras”. Mais: Lula teve o tino de colocar à frente da pasta Anielle Franco, nada mais nada menos, que irmã de Marielle Franco, figura impar da política fluminense que foi selvagemente assassinada, em 14 de março de 2018. Ela e seu motorista Anderson Gomes.
A ministra Anielle vem se destacando positivamente nesses oito meses de governo. Um dos pontos-chaves no combate ao racismo está no futebol. Mesmo se tratando de esporte eminentemente praticado por pessoas negras, os casos de agressão pelo viés étnico são constantes. E, nessa seara Anielle também tem demonstrado estar vigilante. Quando o craque Vinícius Júnior passou por abjetos episódios racistas na Espanha, ela não deixou por menos, pronunciou-se a favor do jogador e desenvolveu efetiva comunicação com a Liga de futebol daquele país. Em outras palavras, Anielle mostrou ao mundo que o atleta da seleção brasileira não estava sozinho. Mais uma vez no futebol, o Ministério de Igualdade Racial promoveu atividade antirracista significativa na final da Copa do Brasil. Durante a partida entre o São Paulo e Flamengo foi apresentado em um grande balão o disque 100, canal indicado para denunciar violações aos direitos humanos. Para além do balão, foram distribuídas muitas camisetas a autoridades e integrantes da CBF com mensagens contra o racismo e o anúncio do disque 100. A ampliação do aviso foi feita por meio do telão do estádio no qual se lia: “Com racismo não tem jogo. Se tiver racismo, denuncie. Disque 100!”. O racismo é uma chaga de difícil dissolução, as políticas públicas desenvolvidas até agora são assertivas, mas não são a panaceia. Nesse longo e complicado caminho rumo à civilidade é necessário que os aspectos econômicos sejam observados pelo governo a fim de que as pessoas negras sintam que, por meio de seus ganhos, a vida também está mudando. Por enquanto, é justo reconhecer que o governo Lula está emprenhado (o mais empenhado, até hoje) em debelar o racismo.