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Opinião
Rejane Romano
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O setembro é amarelo, mas a cor do luto continua sendo o preto

Pessoas pretas, mulheres e a população LGBTQIAPN+ são afetadas com potenciais gatilhos derivados das formas discriminatórias como pessoas pertencentes a esses grupos são tratadas.

Por Rejane Romano*

O mês de setembro começou, e com ele, as reflexões sobre como mitigar o suicídio e os cuidados com a saúde mental dentro da campanha Setembro Amarelo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. O que isso tem a ver com os marcadores de diversidade?

Pessoas pretas, mulheres e a população LGBTQIAPN+ são afetadas com potenciais gatilhos derivados das formas discriminatórias como pessoas pertencentes a esses grupos são tratadas.

A não aceitação de seus corpos em espaços até então ocupados por quem tem direito e acesso aos privilégios causa desconfortos e violências que nunca podem ser minimizados, e danos que podem ser irreversíveis.

Se, de um lado, há a sobrecarga que muitos profissionais negros sofrem (por serem cobrados e se doar de forma extenuante para que alcancem visibilidade nas empresas), de outro, há relatos de mulheres negras que sentem a falta de pertencimento ao alcançarem níveis hierárquicos mais altos no ambiente corporativo.

Um paradoxo que resulta em números assustadores. Dados do Ministério da Saúde demonstram que o número de jovens e adolescentes negros que se suicidam no Brasil é 45% maior do que entre brancos. O estudo afirma ainda que pessoas pretas do sexo masculino, com idade entre 10 e 29 anos, são as que mais sofrem, com 50% mais chances de cometer suicídio do que brancos na mesma faixa etária.

É neste ponto que tomo a liberdade de me ater a esse grupo (jovens pretos) e discorrer sobre iniciativas que possam evitar que aquele velho projeto de embranquecimento, que há anos aniquila pessoas pretas, se realize por força das estratégias (ou a falta delas) para cuidar dessas pessoas que têm se apresentado tão vulneráveis.

Precisamos conversar com nossos meninos. Sim, essa é uma verdade cada vez mais imperativa. E se o acesso a profissionais da saúde, psicólogos e psiquiatras ainda é escasso para boa parte da população, um caminho possível é pela via da criação de políticas públicas que considerem esses recortes sociais e raciais.

Cabe também às empresas, por meio de ações afirmativas, implementar iniciativas que unam esforços nessa luta que pode ser chamada também de antirracista.

Programas de menor aprendiz e estágio devem considerar a questão racial para acompanhamento, feedbacks e até mesmo no processo seletivo. Além de, como em processos seletivos afirmativos e nas políticas para retenção e promoção de profissionais pretos, ter ações especificamente voltadas para a criação de ambientes acolhedores que permitam o crescimento profissional dessas pessoas na empresa. Porque, ao final do dia, de quem é culpa? Para quem e quando as vidas negras importam?

Meninos tiram a própria vida por não mais enxergarem possibilidades, por levarem ao extremo o quanto o fato de “não pertencerem” causa dor. Essas violências, mesmo quando não praticadas diretamente, não podem se perpetuar.

Precisamos conversar com os homens brancos, heterossexuais, cis, aqueles que são maioria no poder das empresas, das Casas Legislativas, que dispõem das decisões em nossa sociedade, para que atuem sobre essa situação.

Não fazer nada também é uma escolha. Então, neste setembro amarelo, a cada vez que você refletir, que propuser rodas de diálogos, bate-papos, ações com especialistas, etc., não se esqueça dos meninos pretos, não se esqueça de fazer algo para mudar os números que gritam na nossa frente e que precisam urgentemente ser revertidos.

 

*Rejane Romano é jornalista, pós-graduada em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP) e atualmente é diretora de comunicação na agência DPZ.

 

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