Por Fernando Lavieri
A Universidade Zumbi dos Palmares está situada na Avenida Santos Dumont, dentro do Clube de Regatas Tietê. Muito perto a instituição está a rua Jorge Velho, localizada no bairro do Bom Retiro. Há algo de estanho nisso. Como é possível que na mesma porção da capital paulistana estejam uma entidade dedicada a educação superior que é essencialmente antirracista e carrega nome de herói, Zumbi dos Palmares, e uma rua com alcunha de significado oposto ao da universidade, Jorge Velho? O bandeirante Domingos Jorge Velho, aliás, foi um dos responsáveis pela destruição, após cem anos de vigência, do histórico quilombo de Palmares. Pois é. Tal coisa existe. A partir dessa indignação, a diretoria da universidade conjuntamente a agência Grey criaram uma campanha para que a via pública mudasse de nome e, assim, passasse a ser chamada de Rua Zumbi dos Palmares. O que é mais adequado. Tal atitude, em consequência, motivou o surgimento de um projeto de lei que propõe a alteração. A Câmara dos deputados já aprovou, a autoria é do vereador Toninho Vespoli, do PSOL. Agora falta somente a sanção de Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo.
Assim como já fizeram as mais importantes metrópoles do mundo, sobretudo, Londres, na Inglaterra, que por força popular retirou estátuas e outras composições artísticas de locais públicos, a maior cidade do Brasil tem de seguir nessa direção, revisar a sua história e colocar os seus símbolos que representam selvageria em ostracismo. No caso dos bandeirantes, apesar de terem proporcionado mudanças geográficas na América do Sul, eles também foram responsáveis por massacres contra as populações indígena e negra. Vale lembrar que ações com esse intuito, o de mudança, já foram realizadas em São Paulo. O Elevado Presidente João Goulart, por exemplo, popularmente conhecido como Minhocão, antes de 2016, homenageava o ditador Arthur da Costa e Silva, agressor contumaz dos direitos humanos. Mais ainda, a indignação contra figuras como Jorge Velho foi o combustível que fez com que populares incendiassem, em 2021, a escultura a Borba Gato, bandeirante assim como Velho. Por consenso e coerção não houve mais atos do tipo. Mas, é importante que Ricardo Nunes leve em consideração que o projeto de lei para que ocorra a alteração de nome da rua, carrega também a vontade popular. Em outras palavras, sabendo-se que na cidade de São Paulo há, ainda, inúmeras homenagens aos bandeirantes, é fundamental que o primeiro passo seja dado. Somente dessa maneira a metrópole passará a prestar tributo a pessoas que lutaram pela liberdade de gente que era escravizada e não por alguém que usou de todas as suas forças para manter a escravidão. Não se trata de querer apagar a história, mas, sim, de resgate da memória da negritude e indígena. Por isso, há de se criar um movimento: sanciona já.