O lugar de líder dos países pobres estava vago desde a queda do socialismo e do esgotamento do desenvolvimentismo. Mas, com os discursos em Sharm El Sheikh e em Paris, Lula está preenchendo essa vaga de líder mundial. Ele tem a formação política, sensibilidade social e carisma e conta com o apoio do nosso competente corpo diplomático, para consolidar seu papel de líder mundial ao encampar quatro causas planetárias fundamentais deste momento: meio ambiente, pobreza, desigualdade e migração.
Lula não tem as amarras do passado, não é nostálgico do socialismo, entende os novos tempos globais e defende as novas classes espoliadas: gerações futuras, ameaçadas pela crise ecológica; os pobres, os náufragos e refugiados.
E ele se tornou o porta-voz dos bilhões de descontentes com o presente e em busca de um novo rumo para o futuro. Líder do mundo global, em um novo tempo, com uma nova esquerda pós-socialismo e pós-nacionalismo. Para surpresa da esquerda tradicional, defende livre comércio e iguala luta social a luta ecológica.
Mas, e agora?
Em setembro deste ano, Lula tem condições de consolidar sua liderança, no discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Será a oportunidade para ir além do discurso crítico, apresentar propostas para o futuro e mostrar que o Brasil é capaz de executar estratégia e ser exemplo de um novo desenvolvimento sustentável e inclusivo. Deverá dar o exemplo interno de que suas propostas para o mundo funcionam no Brasil.
Nas Nações Unidas, Lula pode propor um Bolsa Família mundial, vinculado à educação, que supere a pobreza. Precisa indicar qual é nossa estratégia para que em futuro próximo nenhum brasileiro saudável necessite de bolsas e auxílios para sobreviver. Iniciar a execução de um sistema escolar nacional com máxima qualidade igual para todos, independentemente da renda e do endereço.
Sinalizar que, além de proteger florestas, tem plano e metas para o uso sustentável dos recursos naturais, realizando um desenvolvimento que aumente e distribua a renda nacional, sem degradar a natureza sob nossa responsabilidade, mas que reconhecemos pertencer à humanidade inteira. Defender o direito universal a vacinas.
Mostrar que nossa democracia é sólida, com diálogo entre todas as tendências políticas, e sem as corrupções, no comportamento dos políticos, nas prioridades das políticas, ou na desvalorização da moeda. Conclamar os presidentes de todos os países a construirmos um mundo melhor e mais belo para todos.
Lembre-se de que não há líder mundial sem sucesso local. O mundo espera que não desperdicemos o momento: que Lula e o Brasil apontem o rumo e mostremos como estamos fazendo internamente para construir desenvolvimento sustentável, justo, democrático e pacífico.
Por Cristovam Buarque Publicado em 30 de junho de 2023 – O Tempo