Por Fernando Lavieri
O povo preto quilombola está por aí desde que Zumbi dos Palmares liderou o histórico espaço de resistência que vingou por cem anos e caiu pelas mãos do facínora bandeirante. Mas, essa parcela da população, em 2023, tem, ainda, de desenvolver trabalho de conscientização – agora em escala internacional – para alcançar reconhecimento. Veja só. A COP28, cúpula do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), em andamento até o dia 12, em Dubai, no Emirado Árabes Unidos, é um fórum de debate que fornece as diretrizes a serem seguida pelos governos de cada país como o intuito de reduzir os danos causados pela crise climática. Muito bem. Se é consenso popular que o Sol brilha para todos, a mesma análise é verdadeira quando o assunto é a necessária proteção do meio ambiente. E quem pode falar sobre o assunto com conhecimento de causa e, em casos, de cátedra, são os indígenas e quilombolas, certo? A resposta é sim.
Por isso, grupos quilombolas da América Latina se organizaram para levar as suas pautas ao púlpito da COP28. São elas: preservação da natureza e, por conseguinte, a fundamental titulação dos territórios. A Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) e o Instituto Sócio Ambiental (ISA) juntaram-se nesse trabalho de formiguinha e elevaram a discussão ao palco internacional. Mineradoras, construtoras, o agronegócio e diversos interesse privados vem exercendo pressão sob governos para pôr a mão nas regiões onde vivem os quilombolas.
O grupo colocou à disposição da COP 28 texto que deixa patente a imensa diferença acerca do cuidado com o que deveria ser sagrado para humanidade: O texto aponta que de 1985 para 2022 houve desmatamento de 25% da vegetação existente em áreas privadas, enquanto nesse mesmo período, nos quilombos titulados, a desflorestação foi de 3,2% e 5,5% nos sem titulação. Em outras palavras, quem de fato protege o ecossistema são os quilombolas e indígenas. É absolutamente fundamental que a sociedade brasileira compreenda a imprescindível necessidade de se pressionar tanto o Congresso Nacional quanto o governo Lula no sentido da imediata titulação das áreas quilombolas e indígenas.