A premissa do Sankofa, filosofia Adinkra, que nos ensina que o olhar para o passado a fim de aprender e transportar esses ensinamentos para o futuro tem sido materializada por meio do mercado de trancistas que tem crescido cada vez mais no Brasil, provendo famílias negras e injetando dinheiro em nossa economia de forma cada vez mais potencializada.
A cada dia modelos e mais modelos ganham mais cabeças de brasileiros e brasileiras. As tranças estão em alta e a demanda por quem domina essa arte, as trancistas, aumenta dia após dia.
Uma arte ancestral que encontra um mercado promissor. Atualmente, mais de 70% das brasileiras têm cabelos crespos ou cacheados. De acordo com dados do Sebrae, as mulheres pretas movimentam R$700 bilhões em negócios anuais.
Formação para trancistas
A ocupação de Cabeleireiro Étnico e Trancista é reconhecida pelo Ministério do Trabalho desde 2009. Mas, além daquelas trancistas que aprenderam a técnica com suas mães, tias e avós, hoje há cursos para compartilhar esses ensinamentos, como o que vem sendo viabilizado pela Universidade Zumbi dos Palmares, em parceria com a Fundação Elijass Gliksmanis, que chega a terceira turma totalmente gratuito, com aulas presenciais. Saiba mais em: (LINK DA PUBLICAÇÃO NO SITE DA ZUMBI)
A atuação como trancista pode ser ser autônoma com atendimentos em domicílio ou em salões de beleza especializados. Como o Spa Crioulla, localizado na região do Tatuapé, especializado em cabelos afro e que tem as tranças como um dos carros chefes do salão.
“Desde o início da minha carreira, meu foco sempre foi trabalhar com mulheres pretas por entender a dificuldade de encontrar um lugar e um profissional que entendesse do nosso cabelo. Minha primeira formação foi pelo Senac como cabeleireira e em seguida fiz vários cursos de especialização pensando não somente no embelezamento capilar mas também na saúde do couro cabeludo, surgiu assim o interesse por Terapia Capilar. Fiz minha clientela fazendo trabalhos como alisamento e permanente afro, mas ao longo dos anos o mercado afro foi mudando e vi a necessidade de apresentar outras possibilidades para as clientes, foi quando me especializei em tranças e alongamentos. Precisei estudar sobre a origem das tranças e qual a importância de cada modelo, entendendo que trança não é moda e sim identidade, representatividade”, explica Glauce Dekarla, proprietária do Spa Crioulla.
As tranças costumam levar de 6 a 8 horas para ficarem prontas, a depender da espessura, comprimento e quantidade de cabelo. Os valores dos procedimentos podem variar de R$150 a mais de 1 mil reais, também dependendo do estilo, espessura, tamanho e materiais utilizados no modelo de trança escolhido. Isso quer dizer que trancistas podem ganhar em média 600 reais por dia!
Contudo, ser trancista vai além dos ganhos financeiros. “Para mim é muito gratificante trabalhar com a ancestralidade negra! Felizmente tive a sorte de trabalhar com o que amo. Meu espaço sempre foi pensado para que mulheres pretas pudessem tirar um tempinho para se cuidar, cuidar da autoestima… e de bônus sempre temos trocas e relatos que aquecem o coração. Compartilhamos histórias de vida, infância, histórias de racismo na escola e no trabalho até entendermos como nos aceitar”, conta Glauce.
